Friday, February 22, 2008

Stuart Bailey Conference at Culturgest








Stuart Bailey

All My Friends

Fundador da revista Dot Dot Dot, o editor e designer gráfico Stuart Bailey tem, para o bem e para o mal, ideias precisas e particulares sobre como gosta de trabalhar e com quem.

Trabalhar com amigos pode ser o princípio ou o fim de uma bela amizade. Stuart Bailey sabe exactamente do que isso se trata. Bailey, “pratica” design gráfico, escreve e é conhecido por ser co-editor do “art journal” Dot Dot Dot (a outra parte é Peter Bilak). Vem a Lisboa para uma conferência na Culturgest a propósito da exposição da artista e escritora Frances Stark, intitulada «The Fall of Frances Stark». O foco da conferência são duas publicações: «Frances Stark: Collected Works» e «Appendix Appendix», feito com Ryan Gander. Ambas as publicações foram elaboradas em estreita colaboração com os artistas, Frances Stark e Ryan Gander, respectivamente, a sua namorada e o seu melhor amigo. Estes factos não seriam referidos aqui não fosse Bailey assumir e construir toda a sua reflexão pensando também no que é trabalhar com pessoas próximas. É isso que prefere. Colaborar com artistas, de quem gosta do trabalho, com o objectivo de, e Bailey não se cansa de o dizer, fazer uma “terceira coisa”, “algo que nem o artista nem ele próprio poderiam fazer sozinhos”*. Esta visão de colaboração é ainda estranha no meio das artes plásticas, pelo menos no nosso pais. As prateleiras das livrarias ou das lojas de museus estão cheias de catálogos, edições que pretendem representar uma exposição, o trabalho de um artista. Na sua grande maioria são incrivelmente chatos – má impressão combinada com más imagens e design “eficiente”. Raramente é importante com quem se irá fazer o design do catálogo ou livro, o que se quer é limpeza, como se, estupidamente, fosse essa a melhor e única maneira de representar ou transpor o trabalho de alguém. O que parece ser prioritário é fazer a versão “calhamaço”, boa para colocar na prateleira ou na “coffee table”, do trabalho que se calhar nunca vimos, porque se calhar não, conseguimos, infelizmente, ir à exposição.



Stuart Bailey e Frances Stark compilaram, editaram e fizeram juntos o design de «Frances Stark: Collected Works». O livro tinha o intuito de servir como “irmão” de «Frances Stark: Collected Writing, 1993-2003». Mas esta parte do seu trabalho - desenhos, colagens, mostrou-se de difícil reprodução. A solução encontrada, que acredito não tenha sido desprovida de discussões acesas, foi realmente um terceiro objecto – a própria artista escreveu a história do livro, numa narrativa única da primeira à última folha, dá-nos as pistas do seu processo de feitura, conta-nos as histórias por de trás desta imagem, daquele desenho.
Ter consulta marcada para as 4 e entrar no consultório 2 horas depois dá tempo mais do que suficiente para ler de fio a pavio e ver todas as imagens e voltar a trás, e começar de novo. Foi esse o tempo que levei a digerir «Frances Stark: Collected Works». Descobri um sem número de coisas mas escolho só revelar duas. A imagem que vemos nestas páginas da actriz Sue Lyon (que interpretou «Lolita» no filme de Kubrik) deliberadamente perfurada num acto de censura devido à sua boca demasiado erótica, foi encontrada pela artista enquanto trabalhava numa agência de fotografia. Foi também utilizada pelos editores da Dot Dot Dot como capa de um dos seus números. E o título da exposição de Stark – «The Fall of Frances Stark» faz referência à banda de Mark E. Smith, os The Fall.



«Appendix Appendix» é a segunda vida para Ryan Gander e Stuart Bailey. Quando se conheceram, embebedaram-se, entusiasmaram-se com as suas diferenças, e com as histórias por trás dos trabalhos de Gander. Fizeram um livro, «Appendix», assim intitulado por pretender ser um apêndice à sua prática diária de artista plástico. Em entrevista a Dan Fox na revista Frieze, Bailey não tem meias medidas e explica o processo, “o livro foi uma luta entre mim e o Ryan, ele queria ser obtuso e eu queria ser claro”, quando acabaram o livro não falaram durante dois anos. Bailey gosta de analogias musicais e para ele, «Appendix Appendix» é o segundo disco da “banda”, depois de um turbulento primeiro álbum. Perguntou-se – “como será (...) com mais tempo de estúdio, mais pressão, egos maiores, problemas com a bebida, etc”*. «Appendix Appendix» é um argumento para uma série televisiva de 12 episódios. Os pontos de partida foram o livro de John Berger, «Ways of Seeing» e os Monty Python. A síndrome do segundo disco parece não se ter aplicado. Entretanto, o meeting point para Stuart Bailey e para todos os seus amigos parece ser uma cave no número 38 da Ludlow Street em Nova Iorque. Fundada por si e por David Reinfurt, Dexter Sinister é lugar de workshops, lançamentos de publicações e ocasionalmente livraria. Está aberto apenas aos Sábados, do meio-dia às 6 da tarde...

Susana Pomba


*entrevista dada a Speak Up (Under Consideration)

(Stuart Bailey, All My Friends publicado no LUX flyer de Fevereiro 2008)

«The Fall of Frances Stark», from February 23rd till May 11th at Culturgest, Lisboa. Stuart Bailey’s conference happened February 21, 6h30pm at Culturgest.


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